A importância do básico no profissional

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A importância do básico

Há alguns anos em minha experiência docente*, em cursos de administração, engenharia e afins, tenho observado a tendência de alunos falando em uma série de características subjetivas para determinar o sucesso de um profissional. Virou tema recorrente e clichê, a história da necessidade de flexibilidade, pensamento estratégico, “pensar fora da caixa”, dinamicidade e por aí vai.

Basta uma passeada em perfis no Linkedin e veremos o mundo do clichê aflorado. Os termos mais utilizados pelos usuários da rede social mostram o alto grau de subjetividade. (clique aqui e veja os termos).

No cenário corporativo não é diferente. Gestores e profissionais falam em uma série de características que são “diferenciais competitivos” e, na maior parte das vezes, todas elas marcadas por elevado grau de subjetividade.

Quantos de nós já não foram surpreendidos em esquemas de avaliação de desempenho nas organizações que trabalhamos em que há uma frase de efeito e, após ela, uma escala de 1 a 5 para avaliarmos funcionários ou sermos avaliados. Coisas do tipo: o colaborador se envolve com o trabalho e traz sempre novas ideias com vistas à solução de problemas na empresa.[i]

No mercado editorial de administração a tendência se consolida. Quando nos dirigimos às prateleiras das grandes lojas do ramo, encontramos uma série de livros com o receituário de sucesso de algum guru da gestão. Neles o prefácio fala invariavelmente que o “mundo atual é cada vez mais competitivo e que a única certeza é a mudança”.

Não estou afirmando que profissionais não devem ter capacidade de se adaptar aos cenários de mudança, nem que o ambiente contemporâneo das organizações não demande maior necessidade de adaptação. Tampouco que características comportamentais não são essenciais aos funcionários de qualquer empresa.

Meu ponto é que gestão não pode ser o universo da subjetividade. Todo esse discurso de flexibilidade, resiliência, etc, é marcado por um volume grande de impressões e pouco fato.

Empresas precisam de capacidade técnica e competência instrumental em seus mais diversos ramos de atuação.  Profissionais da mesma forma. Carreiras consolidadas são marcadas por elevado grau de conhecimento técnico e expertiseÉ preciso valorizar mais a ciência e a qualificação.

Vale a pena dar uma lida na reportagem da BBC de 2013 sobre desalinhamento da oferta de mão de obra e a demanda do mercado de trabalho (para ver reportagem clique aqui).

Mesmo passados quatro anos, não creio que o cenário tenha mudado muito. Temos uma legião de diplomas com pouca vivência prática. Temos pouca valorização da teoria aplicada e, principalmente na área de business, isso tem grande valor: vivência e competências em habilidades básicas.

Mais do que focar em desenvolvimento apenas de competências comportamentais, profissionais deveriam se preocupar com sua formação técnica. Vejo alunos em final de curso que não sabem usar o Excel, não dominam a língua portuguesa, não sabem tratar uma base de dados.

Jovens vão caminhando em suas vidas profissionais sem evoluir nestes aspectos, ao mesmo tempo que procuram um “coaching” para transformar suas “habilidades”.

Da mesma forma que empresas querem prosperar sem investir no desenvolvimento técnico de seus produtos e de seus serviços, bem como sem qualificar seus funcionários.

Seria bom começarmos a entender que as empresas de sucesso e as startups de alto desempenho são marcados por alto grau de conhecimento científico e tecnológico. Técnica aplicada, conceitos básicos praticados e em desenvolvimento rápido.

*Marconi Laia é parte do Quem somos do blog agora!

[i] Imagine que todos os profissionais atuem em seus pontos fracos: ninguém se destaca. Todos se movem de acordo com o clichê. Deixamos de ser diferenciados ainda mais em nossos pontos fortes e as organizações deixam de usar desses diferenciais, promovendo “corporações estéreis”.
Sugerimos o livro Diferente para refletir sobre esse tema de construir diferenciais com aplicação ao mundo do marketing e de negócios.
Vale a pena também ver a análise de Dimaggio e Powell sobre a abordagem neoinstitucional. Os autores afirmam que em diversos momentos organizações passam a usar receitas, padrões e crenças para dar sentido à experiência cotidiana. Fazem-no por meio de práticas de mimetismo ou cópia de outras organizações. Ao invés de tornarem-se distintas, fazem mais do mesmo!

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