Seu modelo de negócio está pronto para o Grátis?

Gratis

Foto por: Erik Scheel / Pexels

 

O que você pensa quando lê a pergunta: seu modelo de negócios está pronto para o Grátis?

Vou sugerir três respostas:

  • Que mané grátis? Não existe “almoço grátis”. Tudo tem um custo e isso é besteira.
  • Morro de medo. O mundo está mudando. Os negócios estão sendo revolucionados. O tal grátis é o tal modelo Google e não me sinto nada preparado para isso.
  • Não tenho a menor ideia.

A reflexão abaixo me parece útil para o cético, o assustado e o ignorante. A leitura do livro Grátis inspira e é de grande valor para esses três perfis.

 

O Grátis sempre existiu, mas está mudando

A famosa citação de que não existe “almoço grátis” é válida no sentido que tudo tem um custo e alguém paga esse custo. Contudo, existe custo marginal zero (ou baixo demais para ser contabilizado) e no mundo dos bites (em oposição ao mundo material – dos átomos) essa é uma verdade cada vez mais presente. A visão de que alguém paga observa externalidades e nesse sentido, quem paga pode não conhecer ou não ter relação direta com quem recebe. Logo algumas pessoas podem vivenciar o grátis.

Em se tratando de percepção e modelo de negócios o grátis pode criar verdadeiras revoluções. Portanto, não seja cético. Entenda e navegue no conceito do grátis.

Soluções que envolvam o grátis são bem antigas, assumem quatro formatos possíveis segundo Chris Anderson:

  • O mercado de 3 participantes: eu pago para você divulgar minha marca, um terceiro consome seu produto de graça e vê minha marca exposta. É a velha e boa equação de propaganda, na TV e rádios;
  • Subsídios cruzados: dou um produto grátis para atrais público para comprar outros produtos na minha loja. Um produto subsidia o outro.
  • Modelos freemium: faço uma versão grátis (free) do meu produto que atende uma ampla maioria de pessoas, e umas poucas pagam por uma versão premium com algumas funcionalidades a mais;
  • Mercados não monetários: recebo algo de graça do ponto de vista monetário e pago com algo não monetário, seja minha reputação, audiência, etc. Esse conteúdo por exemplo está chegando sem nenhum custo para você (e enquanto não tiver receita com propaganda no blog, é meramente um mercado não monetário*).

Com o avanço da tecnologia, os custos dos bites é cada vez menor. Temos um mercado deflacionário com a velocidade exponencial de processamento da tecnologia. Logo, temos cada vez mais custo marginal zero para disponibilizar informação. O efeito cauda longa faz com que possamos disponibilizar informação infinitamente, e a mesma propriedade tecnológica afeta os negócios reduzindo seus custos e pressionando os modelos de negócios para o grátis.

Esteja preparado para o Grátis

Você tem um serviço que pode ser ofertado de modo gratuito por um concorrente? Cuidado.

Por que você acha que o WhatsApp no Brasil continua grátis? Minha hipótese é que o dia que cobrar ele perde espaço para um novo entrante gratuito e com isso entra na espiral descendente do efeito de rede (clica aqui e entenda o conceito).

Olhe a seu redor e veja quantos mercados operam no modelo do grátis? Você paga pelo YouTube? Você paga pelos serviços de busca do Google? Olhe no seu iPhone quantos aplicativos são pagos? Aposto que a maior parte por você ter optado pelo modelo premium.

O jogo do grátis é antigo (a mega indústria da mídia, da televisão ao jornal impresso se sustentou nesse modelo). A dinâmica do grátis mudou com os bites (essas indústrias estão no dilema de mudar ou morrer).

Novas fronteiras para o grátis vão ocorrer a cada ano: o custo do processamento da informação continua caindo.

 

Barreiras de entrada, plataformas e o valor do grátis

Aqueles negócios que estão no mundo dos bites devem ficar mais atentos na medida que seus custos de processamento caem e abrem espaço para concorrentes mais competitivos. Chegamos a pagar para ter uma conta de email, esse valor vem caindo e continuará caindo. Para muitos já é grátis.

Junte o elemento do grátis à estratégia de plataformas (aquela que conecta produtores a consumidores**) e verá as inúmeras opções de grátis, incluindo as que já surgiram.

Poderíamos dar vários exemplos dessas transformações, mas vale a atenção para entender o que protege mercados da estratégia de plataformas: barreiras de entrada.

  • Regulação: a existência de regras para atuação no mercado. Veja no setor de bancos. Você paga para ter uma conta em grande parte dos bancos ainda. Tem a conta salário grátis, mas por obrigação legal. Quer mais serviço, tem custo. Por ser regulado existe barreira de entrada nesse setor, não é qualquer um que pode fazer o que banco faz.
  • Visão de perda elevada: para mudar a forma como fazem, as pessoas vão sentir que tem muito a perder? Novamente no exemplo dos bancos: você mudaria todas suas aplicações para um novo serviço? Pouco provável, existe aí uma grande barreira de entrada ligada à reputação.
  • Recurso físico: o mundo dos átomos. Exemplo: o petróleo. Recurso finito. Enfim, barreiras de entradas naturais.

Mas a cada nova geração de startups que cresce junto com uma mentalidade de mundo diferente, mais oportunidade é observada. Temos muitos mercados ainda com potencial de terem boas plataformas. Imagine onde tem muito intermediador, onde tem alta dispersão e pluralidade de atores prestando serviços semelhantes, que seja dependente e/ou com alta assimetria de informação entre as partes? Várias plataformas vão ocupar esses espaços. E o grátis será o preço de entrada dominante.

 

Pense na escassez

“Cada abundância gera nova escassez”***

 

Essa regra clássica ajuda a criar as estratégias de sobrevivência dos negócios. Onde reside a escassez? Se algo é grátis, o dinheiro não é escassez. Mas o tempo é finito. Muita informação, escassez de tempo. Dilema moderno. Tecnologia para economizar tempo…um desafio tremendo para nossas organizações.

 

P.S: Caso a sua resposta na parte inicial não se aplique a nenhuma das 3 opções mencionadas, e seja algo como “sim, estou preparado”. Parabéns (por ora, afinal a sobrevivência exige nunca baixar a guarda)!

(*) o propósito do blog é estimular leitura e reflexão do tema gestão. Gostou da reflexão, ajude a compartilhar esse conhecimento! Compartilhe nas redes, dê sua contribuição, agregue! A missão de reinventar nossos negócios e sermos um país mais empreendedor é de todos!

(**) o Uber é uma plataforma: conecta os produtores motoristas aos consumidores, o cartão de crédito é uma antiga plataforma, conectando quem quer pagar com quem quer receber. Fica a dica de leitura sobre plataformas (clique aqui)

(***) citação de Herbert Simon no livro Grátis (p. 183)

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