O objetivo é ser feliz

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O Objetivo é Ser Feliz

Qual nosso objetivo? Ser feliz. Acho que ninguém negaria essa afirmativa. Talvez o desafio maior seja identificar o que nos faz feliz, como traduzimos isso em algo mais objetivo [1].

Não se trata de algo simples, e está longe de ser algo matemático [2]. Essa reflexão, sobre ser feliz e a importância disso, é fundamental para entendermos melhor o que somos e o que queremos ser, tanto no ponto de vista individual, quanto na agregação do indivíduo para o coletivo (seja o coletivo que for: uma família, empresa ou sociedade).

Recentemente li o livro Satisfação garantida” de Tony Hsieh, e ao final o autor aponta para uma estrutura de felicidade que chama atenção pela sua simplicidade e potencial de aplicação. A felicidade, segundo apontado, estaria atrelada a quatro componentes:

  • Controle percebido
  • Progresso percebido
  • Conectividade
  • Visão/significado (fazer parte de algo maior do que a si próprio)

Tal lógica é bem interessante e para o ambiente de organizações é fundamental, uma vez que perpassa diretamente as noções da relação de trabalho, no que tange a controle e progresso das atividades/carreira de um indivíduo, bem como reflete muito do ambiente pela importância que se dá às conexões derivadas do trabalho e ao projeto que se está inserido.  Os quatro componentes refletem diretamente para a noção de motivação, algo tão importante para o esperado engajamento das pessoas no dia-a-dia.

Não sou um especialista em motivação ou gerações, mas me arrisco dizer, que os dois primeiros itens, controle e progresso, são mais ligados às gerações mais velhas, ao passo que a conectividade e visão/significado estejam mais ligados à geração Y (mais nova no mercado).

A ideia de estar em uma empresa no resto da vida é algo que foi valor, e já não é um consenso ou mesmo objeto de desejo para alguns. O contraponto disso, na minha visão, seria a autonomia do indivíduo, e se antes estar em uma carreira de uma grande empresa era ter controle e progresso, atualmente, essa percepção mudou, e o desafio é grande para reter talentos, e lidar com a ansiedade de progredir. Entender o caminho da carreira, e ter esse controle, é algo fundamental para qualquer profissional, pois daí ele irá dimensionar suas expectativas. Na maior parte das vezes a carreira não é uma escada em ascensão, e cabe a clareza de se entender que não haverá progresso financeiro substancial, e sim identificar outras formas de progresso. Acho que temos muito a evoluir na forma de criar esse valor na base das cadeias de operação (afinal ali se concentram a maior parte da força de trabalho e queremos que essas sejam bem formadas, cheias de talentos, e que grande parte dessa mão de obra ali continue, pois isso significa aumento de produtividade).

Por outro lado, e particularmente algo que valorizo mais, talvez por ser dessas gerações mais novas, se dá ao tema de fazer parte de algo maior que eu (e daí a importância do projeto que se envolve, de ser algo passível de crer e acreditar que é transformador). A questão da conectividade também é de grande importância, uma vez que gastamos muito tempo nas relações de trabalho (mais tempo que fora delas no meu caso), e se ver inserido em um grupo que está de fato conectado representa muito para estar feliz.

Analisando os quatro componentes, vejo claramente o desafio, já mencionado anteriormente acerca dos concursos públicos, e a cultura por trás dele. A escolha e seleção por meio de concursos foca muito no controle e progresso percebido (que particularmente acredito ser uma ilusão, pois se tem controle para com a entrada: depende do seu esforço de estudar e passar, mas tem-se pouco ou nenhum controle quanto às atividades desempenhadas, e quanto ao progresso na carreira, e que novamente carecem da variável motivação).

Algo que também agregou bastante na minha reflexão sobre ser feliz foi a leitura do blog de Mark Manson. Ele defende que a pergunta central que deveríamos fazer a nós mesmos é quanto a “Qual sofrimento você quer sustentar?”, uma vez que a escolha do caminho para ser feliz se daria pela capacidade de suportar o custo envolvido nessa escolha.

Tento exemplificar: É fácil querer ser um profissional bem-sucedido. Mas esse desejo por si só é inócuo [3]. O que seria fundamental é entender que para ser um profissional bem-sucedido, exige-se esforço e disso decorre um sofrimento, e estar disposto/querer sustentar esse sofrimento é o definidor da sua vida.

Por óbvio que a abordagem proposta é polêmica, mas tendo a concordar quanto a importância de se ter essa reflexão do sofrimento em mente para as decisões importantes da vida. Na ótica pessoal, podemos ser facilmente iludidos por sonhos perfeitos de que a vida é bela. Eu acho que a vida é bela sim, mas não é só feita de momentos felizes (por mais que tenhamos que buscar mais desses momentos e concentrar nossas energias em valorizar os pequenos prazeres). E o definidor da nossa felicidade tende a ser nossa capacidade de lidar com os momentos difíceis e “tristes”, os sofrimentos impostos, pois se escolhermos fora do nosso desejo de sofrimento, e não suportar a parte ruim, não vivenciaremos a parte boa [4].

Eu brinco que casei com o pior da minha esposa. Foi esse lado que pesou mais na minha decisão. Com a parte boa não precisava pensar nem um minuto, pois essa é só alegria. Contudo, a construção do dia a dia, vem com a paciência em lidar com a parte ruim do outro (e por óbvio do outro com a nossa parte ruim). Do mesmo modo, quando optei na vida por mudar de rumo minha carreira, não foi pelo lado bom da parte que eu estava estabelecido. Mudei por não estar mais disposto a lidar com o peso/sofrimento daquilo que fazia, e daí a importância de sempre ter essa pergunta em mente.

Para finalizar a reflexão, gosto de uma equação simples que ilustra bem esse tema, e que podemos fazer um apanhado geral da reflexão de ser feliz:

FELICIDADE = REALIZADO – EXPECTATIVA

Notem que esta subjacente a essa forma simplista de pensar na felicidade a capacidade de realização. Você pode sonhar em pegar a maior onda do mundo, mas somente irá realizar essa expectativa se tiver a dose certa de preparação/habilidade, e sorte (nunca despreze a sorte). O interessante é entender que para tolerar os processos de sofrimento que precisamos passar para desenvolver nossas capacidades, tanto melhor se tivermos, além da visão do que esperamos alcançar, um ambiente que seja dotado de companheirismo (e por que não de amigos), e que você consiga ter clareza do que está fazendo, como está progredindo e ser capaz de depender pouco de fatores alheios a sua vontade para chegar lá.

Felicidade e gestão, se você ainda não conseguiu ver a conexão, reflita sobre sua capacidade de ser gerente!

P.s: escrevi esse post em fevereiro de 2014. Quem me conhece sabe que coerência é valor. Adivinhe qual é a primeira pergunta que faço antes de qualquer feedback?

[1] Acreditem que para alguém como eu que adora gestão por resultados, essa métrica da felicidade é um enorme desafio! Indicadores de satisfação são cheios de vieses e riscos de mensuração, e devem ser usados com muita cautela.

[2] Ser difícil não significa que não deve ser pensado. Por isso não me entenda mal, acredito que vale a tentativa de buscar entender e criar conceitos que ajudem a desmembrar a equação do que é ser feliz!

[3] Para nossa sociedade basta ver que temos alguns milhares que sonham em ser jogador de futebol, mas uma grande parte nem se dá ao trabalho de treinar seriamente, logo, fica só no desejo de ter sido. Veja por outro lado a história de Michael Phelps, maior nadador de todos os tempos: muita dedicação e esforço como premissa e anos de dor antes de chegar à consagração.

[4] E feliz mesmo é aquele que consegue tirar o lado bom na parte que exige mais esforço! Tai um bom desafio pessoal sempre!

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