Errar como forma de aprender: isso se aplica às PPP?

Errar como forma de aprender

As Parcerias Público Privadas (PPP) são um instrumento moderno de grande valor para a sociedade. Trata-se de uma solução contratual de compartilhamento de riscos para viabilizar investimentos e aumentar a eficiência operacional na gestão de equipamentos e serviços públicos.

Quer saber mais sobre PPP, clique aqui [i].

Por se tratar de projetos com milhões de investimento público e privado (a depender de cada modelagem), sua estruturação requer uma agenda intensa de elaboração de estudos de viabilidade e processos de consulta, edital, até chegar a um contrato. O custo envolvido para uma modelagem é significativo. Envolve muito tempo de profissionais especializados. E reparem que estamos falando dos esforços somente até a fase de assinatura de contrato (depois disso se inicia todo o trabalho de implementação, regulação e gestão do contrato).

No Brasil devemos ter algo próximo de mil projetos de PPP em diferentes fases de estudo, mas apenas 10%, aproximadamente, viraram entregas efetivas para a sociedade. Milhões ou bilhões em papéis que ficaram engavetados. Não me parece condizente com nossa necessidade.

A pergunta que sempre me fiz como gestor público (quando fui) e que me faço atualmente como cidadão é: qual seria a taxa aceitável de projetos que não saem do papel?

Certa vez, no contexto de um processo seletivo que participei, me perguntaram qual seria minha meta de projetos fomentados a serem implementados (ou seja, estudos que sairiam do papel). Eu respondi 100%. Ideologia pura! Precisamos ser comprometidos com a efetividade e obsessivos pela eficiência do gasto público (e privado).  Essa resposta já faz mais de um ano, talvez tenha sido determinante pela minha não seleção no referido processo. Contudo, minha agenda recente na empreitada de startup Agtech e a valorização da agenda de aprendizado continuo e rápido me fez voltar nessa pergunta e contextualizar a resposta.

Primeiramente, qual a máxima da agenda da cultura de “valorizar o erro”? Na Nova Economia sobrevive quem aprende mais rápido ou, dito de outra maneira, aquele que desperdiça menos. Sobrevive quem acha o caminho do sucesso mais rápido, quem erra mais rápido até achar a forma de acertar[ii].

Uma leitura recente do livro Adapt, apresenta de modo simples os 3 passos para ter essa agenda de adaptação (processo de erro e acerto – que permite a agenda de inovação) bem-sucedida em negócios:

  1. Tente coisas novas, com a expectativa calibrada de que algumas vão falhar;
  2. Faça a falha ser viável, ou seja, não permita que uma falha coloque toda a viabilidade do negócio ou organização em cheque. É importante respeitar a ideia de: “Sobreviva a falha”; e
  3. Tenha em mente o que se busca, crie seu sistema adequado de mensuração para que seja possível entender no que e em quanto se falhou e, a partir disso, aprender com o erro.

São três passos simples, mas de grande importância. Quem não tentar algo novo irá ser atropelado na Nova Economia. Mas para inovar é necessário entender as possíveis consequências. Inovações que não respeitam isso podem destruir empresas (a gestão financeira da empresa Sadia inovou no modelo de hedge, e a má gestão de risco fez a empresa colapsar – e surgiu a BRF que parece não ter aprendido ainda com a ideia de criar o ambiente para inovar sem risco). E a ausência de métricas e sistema de mensuração é algo essencial para o aprendizado. Os gurus da gestão já diziam: o que não se mede, não se melhora.

Soma-se a isso três cuidados importantes nessa agenda de reconhecer o erro:

  • Temos uma tendência a negar o erro;
  • Atrelado a tal negação, como estudado e apresentado no livro Rápido e Devagar, temos um viés de “aumentar a aposta”. Não queremos reconhecer e afundamos ainda mais na fé de que uma dose maior é o melhor remédio;
  • Para processar melhor a história e tornar o que é complexo em simples, tendemos a criar um enredo olhando o processo que seja lógico, com mais causa e efeito do que reconhecendo que existe um contexto que pode ter influenciado (a tal sorte). E tentamos com isso associar processos de erros como naturais caminhos do triunfo, uma falácia narrativa que pode não ajudar no real aprendizado.

A agenda de errar é dura, uma tarefa difícil e que exige atenção para não cairmos nos riscos desses vieses. Faça uma reflexão de quando recebeu um feedback negativo: focou no conteúdo ou guardou o contexto e a forma do feedback? Nossa reação mental tende a bloquear a verdadeira mensagem e focar em aspectos de “justiça” ou “ postura” de quem dá o feedback.   Deixamos de focar no objeto de aprendizagem por uma sabotagem mental. Tendemos a negar e focar em justificar, criando uma lógica para o contexto do erro.

Aprender é possível. Criar a agenda positiva para esse ambiente é necessário. Trata-se de exercício individual e coletivo. Um movimento necessário para a agenda da eficiência nas organizações.

Voltando à minha pergunta sobre desperdício em projetos de PPP:

Minha trajetória foi de 100% de efetividade quando fui gestor público. Dois desafios, dois contratos implantados. Muito esforço de uma equipe da qual fiz parte, mas muita sorte também!

Faz sentido essa agenda de aprendizagem no contexto das PPPs? Com certeza. Existem muitos estudos que devem morrer rápido. A famosa pré-viabilidade. Exercícios mais simples que promovam leituras de contexto. Para muitos casos, a maior contribuição para agenda de ser eficiente é “arquivar rápido”.

Contudo, é gigantesco o potencial para PPPs no Brasil. Existem muitos projetos que têm viabilidade. Nesses casos, a agenda merece investimento e deve perseverar. O aprendizado tem espaço nos processos de consultas públicas, manifestações de interesses, escutas ativas. Errar não significa arquivar, significa ajustar rapidamente para o contexto mais viável.

Acredito que os incentivos devem estar alinhados com a clareza do ambiente e contexto do governante, e mapeamento de atores e interesses antes da decisão de iniciar uma empreitada de grandes investimentos em estudos. Contudo, uma vez iniciada, tolerar apenas estudos arquivados é aumentar a ineficiência do país. É produzir estudos que podem apenas ter interesses de quem recebe para fazer estudos.

A decisão de investir em estudos que requerem altos investimentos deve ser criteriosa para aplicar bem, seja recurso público, seja recurso de órgãos de fomento, seja recurso privado reagindo à sinalização do setor público. Precisamos ter respostas mais próximas à 100% da efetividade, principalmente quando tratar de estudos que envolveram milhões de investimento. Precisamos aprender a errar rápido. A adaptação é essencial para a sobrevivência.

[i] Declaração importante: essa empresa que indiquei é fera no assunto PPP. São meus amigos, empreendedores pioneiros nessa bandeira no Brasil. O destaque não é pela amizade, mas pela competência em tratar do tema.

[ii] A leitura de “A Startup Enxuta” é altamente recomendada para compreender esse tipo de pensamento.

P.S: o contexto internacional, segundo meu amigo especialista, apontam para taxas de 40% de estudos que viram contratos. Bem, os nossos 10% do Brasil estão longe desse patamar de efetividade. De qualquer modo, descartados os erros que seriam vistos nos estudos mais simples de pré-viabilidade, aceitar que a cada R$10MM gastos em estudos apenas R$4MM vire contratos e investimento real, e os outros R$6MM sejam apenas papel arquivado, não me parece um patamar ainda adequado.

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