Produto é ruim porque ninguém usa, ou ninguém usa porque é ruim? Dilema de desenvolvimento do produto na Nova Economia

Produto é ruim por que ninguém usa, ou ninguém usa por que é ruim?

A pergunta sobre desenvolvimento do produto é recorrente nos debates de qualquer empresa. Qual o principal objetivo: desenvolver um bom produto ou criar hábito de uso? A resposta do que vêm primeiro varia de acordo com mercado, mas na Nova Economia a cultura de teste e aprendizado rápido deve ser em muito considerada. Assim sendo, a qualidade do produto é ligada ao volume de usuários, e seu desenvolvimento deveria ser observado de acordo com a opinião desses, em ciclos rápidos de aprimoramento.

Vamos analisar a pergunta por outro ângulo: qual o valor de um produto bom que ninguém usa? Essa resposta parece mais simples: quase zero, pois o valor está no uso. Diante de um dilema desses temos o foco em ajustes de atuação/mercado alvo, definição de preço, etc.

Por outro lado, qual o valor de um produto ruim usado por muitos? Tem valor, pois atende uma determinada demanda e o caminho crítico nesse caso envolve aprimorar a qualidade e continuar tendo essa base de clientes.

O uso, portanto, parece ser uma variável de primeira ordem. Isso quer dizer que qualidade não importa? Definitivamente não. Mas na Nova Economia o produto não é mais um objeto sagrado. Seu valor deriva e aumenta com o feedback dos clientes, que é mais rápida e fácil de acessar: todo consumidor tem múltiplos canais de contato com a marca.

Atenção se o consenso for muito grande acerca das premissas, seja você o primeiro a questionar. Qual o risco dessa verdade e cultura de teste: acreditar que ela é imperativa e logo qualquer processo de aprendizagem, partindo de um produto mínimo viável, irá triunfar. Assim, o importante é lançar, ficar atento e capturar feedback do cliente e acelerar nos desenvolvimentos e aprimoramentos.

Cabe avaliar bem o contexto e mercado que está inserido. Entender que alguns níveis de “teste” geram frustrações e “reduzem mercado”. Vale destacar que o cliente quer ser bem surpreendido e que um processo com um produto muito aquém da qualidade mínima viável (e esse conceito é crucial para um efetivo lançamento) pode gerar grande desperdício.

Gosto particularmente do desafio de criar demanda. É uma tarefa muito difícil, mas tende a estar associada com a criação de valor, e não apenas com a captura de valor já existente na sociedade. Dito de outra forma, ao se criar demanda, estamos falando em oferecer algo novo, que não era antes consumido pois não se tinha consciência de sua oferta.

Criar demanda é tarefa ousada por se tratar de uma jornada não antes percorrida. Uma leitura que recomendo para os que queiram se aventurar é “Criando demandas”, por tratar desse tema com boas reflexões. O autor pontua o papel da escuta ativa para ter uma agenda de melhoria continua, bem como a importância de pensar em “gatilhos” associados a primeira compra, a parte de retaguarda que é essencial para o sucesso e as diferenciações ou customizações pensando na variedade de clientes a ser atendidos.

Gosto em especial da citação quanto a importância de se criar magnetismo do produto, “não é o primeiro a chegar que vence. Vence o primeiro a criar e capturar o espaço emocional do mercado”. Enfim, estamos falando dos promotores[i] e de criar uma tendência ou necessidade que não existia antes[ii]. Nessa jornada produto e hábito devem andar de mãos dadas. Produto que vai melhorando à medida que vai sendo usado.

[i] Quem não conhece o conceito de NPS, recomendo. Clique aqui e veja uma reflexão diferente sobre essa aplicação.

[ii] A leitura do livro Ponto de Virada pode ser de grande inspiração.

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