Lições da inovação da Tesla: a importância de respostas assertivas

Tesla modelo S

Tesla modelo S / foto por Divulgação Tesla

 

O mercado automobilístico tem proporcionado uma série de informações que permitem a compreensão de como acontecem mudanças de cenário e o surgimento de novas tendências. Durante minhas aulas de Estratégia ou Planejamento Estratégico, tenho refletido com meus alunos que várias vezes desejamos trazer vida aos conceitos de análise ambiental e não conseguimos, mas as oportunidades começaram a aparecer.

 

Momento oportuno para análises de ambiente

Estamos presenciando as discussões sobre veículos autônomos, veículos elétricos, mudanças nos transportes de massa provocados por aplicativos, entre outros. Uma breve zapeada na internet já nos dá uma vasta gama de informações sobre esses assuntos. Veja, por exemplo, as entrevistas com vários presidentes de empresas automobilísticas publicadas na semana passada na coluna de Carros do G1. Informação quase em tempo real sobre mudanças em um ramo de negócios tão grande e importante!

Chama atenção uma reportagem sobre o presidente da Tesla, por mostrar a responsabilidade corporativa de corrigir erros e, ao mesmo tempo, apontar a importância de uma visão completa de estratégia, desde o planejamento até a execução. A reportagem pode ser vista aqui.

A necessidade de observar a responsabilidade das corporações

Ao lermos o artigo vemos o tamanho do desafio e do compromisso que o presidente da empresa fez. Embora possamos alegar que ele não precise de dinheiro, a postura de atrelar os ganhos às metas operacionais e ao mercado de ações é muito ousada: demonstra o compromisso da empresa em cumprir com objetivos pactuados, a começar por seu cabeça. Esse tipo de atitude traz vida e transforma em fato preceitos recorrentes de uma liderança engajada e comprometida com os objetivos estratégicos. A reportagem fala em ganhos de US$ 78 bilhões de dólares se as metas forem alcançadas. Os incentivos estão alinhados e exercendo sua força: é muito dinheiro para se abrir mão.

 

A leitura da motivação que leva à ação

O compromisso de atrelar os ganhos aos resultados ganha contornos claros se entendemos a sua motivação.  A Tesla anunciou e gerou grande expectativa com um carro chamado Model 3. Acontece que a produção do veículo perdeu uma série de metas de produção por problemas de manufatura. A organização perde credibilidade diante de tal contexto. Embora a Tesla seja uma referência em inovação na criação de veículos, a empresa não possui o background de outros atores do mercado automobilístico que desenvolveram anos de experiência em eficiência operacional.

Excelência em manufatura pode não ser uma vantagem competitiva, mas com certeza é um alicerce necessário em qualquer negócio. Esses dias li no Linkedin que o que importa é a inovação e não a execução. Bobagem! Caminham juntos!

Existe uma certa tendência de entendermos que inovação é algo exclusivamente vinculado à ideia e aos projetos. Não adianta ter um belo conceito se ele não pode ser produzido de forma efetiva.

Uma das lições disso pode ser vista em uma frase simples e precisa de Slack e Lewis em seu livro Estratégia de Operações (livros didáticos são muitas vezes desprezados em nossas leituras porque guardam o ranço de terem sido utilizados em aulas acadêmicas e queremos ficar livres deles. Dê uma passeada em suas páginas de vez em quando. Há grandes conceitos lá):

“A posição de marcas pode ser estabelecida na mente de consumidores pelas suas atividades promocionais (ou capacidade de inovação), mas logo haveria um desgaste se eles não conseguissem entregar os produtos na hora certa, ou se a qualidade estivesse abaixo do padrão”

Inclusive, a lacuna de competência operacional da Tesla pode ser uma oportunidade para concorrentes. Pense em outras empresas automobilísticas que já possuem excelência operacional e começam a desenvolver veículos inovadores movidos à eletricidade. Com certeza, os riscos de problemas com metas de produção serão menores.

Por mais inovadora que uma empresa seja, ou pareça ser, colocar intenção em ação demanda capacidade operacional.

 

Organizações precisam dar respostas rápidas quando apresentam problemas

Ciente de que a  irregularidade na produção provoca perda de credibilidade, o presidente da Tesla adotou uma resposta assertiva ao colocar os próprios ganhos em risco.

Não é somente uma resposta tempestiva, mas ousada, e que mostra compromisso com acionistas e consumidores. Como esse aprendizado é necessário! Grande parte das organizações escondem erros ou querem fazer os clientes acreditarem que não geraram grandes problemas.

Posturas de negação ou omissão são típicas de instituições que não levam os consumidores a sério. Um bom contraponto disso pode ser visto na postura da Apple que resolveu reduzir o desempenho das baterias de seus celulares e não avisou aos consumidores! E olha que estamos falando de uma organização tida como uma das mecas em inovação!

Em suma, não é necessário acertar sempre, mas é fundamental ter em mente que:

  1. inovação começa no projeto, mas demanda mais!. A execução é parte da transformação;
  2. é fundamental dar respostas condizentes com as expectativas dos consumidores e que sejam assertivas e transparentes.

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