Construir é difícil, destruir fácil: algumas ideias sobre cultura e instituições

Construir é difícil, destruir fácil: algumas ideias sobre cultura e instituições

O valor não está nas ideias, está na capacidade de execução. E em se tratando de empresas, a capacidade de execução está nas pessoas, fazer com que as pessoas queiram se dedicar, se engajem, criem, entendam o que é esperado delas e executem. E por isso cultura sadia nas empresas é essencial.

De modo correlato para nações, instituições tem igual peso: regras sejam morais ou legais, que são vistas como maior ou menor risco, e refletem diretamente na atração de investimentos e decisões sejam de longo prazo.

Cultura tem forte relação com instituições, não sou especialista e podem ser entendidas até como a mesma coisa. E para ambas vale a máxima: “destruir é fácil, construir é difícil”. 

Tal máxima deriva do seguinte entendimento. Regras para serem entendidas, assimiladas e respeitadas, precisam de consistência ao longo do tempo. Precisam se fazer ser cumpridas. Precisam ter o exemplo. Toda vez que criamos uma regra e deixamos de cumprir ou criamos um monte de exceções as pessoas não levam o ambiente a sério, e passam não só a desrespeitar a regra especifica, aguardando também serem exceções, mas deixam de levar a sério outras regras e novas regras. Para reverter um quadro de não credibilidade, é necessário tempo, exemplo, pulso para fazer regra valer, enfim, tempo com esforço, e por isso mesmo a construção é difícil.

Ninguém cria ou muda a cultura de uma empresa em um dia, ou uma semana, nem mesmo em um mês. É um processo cumulativo, que vai se formando. Contudo, basta uma ação para comprometer toda a construção. Algumas ações criam pequenas rachaduras, principalmente se a cultura existente for sólida (fruto de uma construção que envolveu muito esforço), outras se tiverem um peso muito forte, podem fazer tudo se partir, não existindo prevenção possível. A reconstrução é ainda mais custosa.

Para nações isso é ainda mais verdade e com ciclos ainda mais longos.

Criar culturas fortes que tenham o objetivo correto podem salvar vidas. Exemplo é a questão de “hierarquia” em hospitais.  Em hospitais onde a cultura de “médico manda enfermeira obedece” tem-se um problema grave, pois não se forma equipe, e não se tem o ambiente para abertura a críticas, e enfermeiras deixam de apontar riscos e falhas em procedimentos (e médicos não são Deuses, mesmo salvando vidas e somos gratos pela profissão, logo também estão sujeito a erros). O hospital com uma cultura boa, ajuda a mitigar e prevenir erros e riscos, cria equipes, em que todos se respeitam em seus diversos papéis, e o ambiente é propicio a apontar falhas, cultura construtiva de corrigir/educar e não de punir, o que ajuda o objetivo de “salvar vidas”.

Agora imagine que você está em um hospital com a cultura errada e queira introduzir a cultura certa. É possível? Sem dúvida. É fácil? De modo algum, e vai levar tempo, pois não basta afixar novas regras, valores, princípios, etc. É preciso processos, treinamento, sensibilização, muito esforço repetido, exemplos a serem seguidos, apontamento de erros e exemplos a serem melhorados, etc. E isso leva tempo. 

A imagem abaixo é muito adequada para mostrar o papel da cultura como pilar das organizações:

Imagem adaptada (p.62)

Fonte: © BrigthHouse. Ilustração de David Paprock

A imagem foi retirada do livro Propósito: por que ele engaja colaboradores, constrói marcas fortes e empresas poderosas, e a representação de propósito nesse livro é dada pelo axioma de Aristóteles, segundo o qual, “na intersecção dos seus talentos únicos com as necessidades do mundo encontra-se a sua vocação”. E por isso o autor coloca o Ethos como o núcleo do desenho, uma vez que é nele que reside o propósito, no qual se edificará a cultura, que permitirá o engajamento das pessoas, que serão responsáveis pela construção dos valores, estratégias e táticas derivadas da ação dessas pessoas.

Escolhas individuais precisam ser inspiradas para gerar ações coletivas. Criar cultura é conseguir inspirar, selecionar pessoas que são aderentes ao propósito (o talento que encontra a vocação), criar incentivos que criem ciclos virtuosos. A felicidade das pessoas nas organizações importa para que elas sejam produtivas, e novamente isso remete à clareza disso e a busca de alocar bem, e dos indivíduos entenderem e se posicionarem bem também. Afinal, se ser eficiente é um desafio para as empresas, para as pessoas é questão essencial: energia vital que merece ser bem alocada, produtiva para sociedade e realização para o indivíduo.

Destruir é fácil, construir difícil. Escolher os caminhos difíceis nos farão indivíduos, organizações e nações melhores.

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